Moçambique Fase II (Quelimane – Nicoadala)

A vontade de deixar Quelimane era pouca, não só por me ter habituado ao comodismo, como também devido aos maus hábitos que havia amestrado ao meu estômago.

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No entanto estava na altura de partir e enfrentar as novas etapas da viagem.

 

Pouco passava das 11h00 quando deixei a casa onde me albergara por uns dias e dei início ao processo de despedidas.

Em primeiro lugar passei na casa dos meus “vizinhos” para me despedir do Tiago e da Margarida, com quem havia passado bons momentos durante a minha estadia em Quelimane.

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Logo de seguida e já na saída da cidade, parei para me despedir e agradecer à D. Fátima e ao Rafael pelo excelente acolhimento propiciado.

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Ainda antes de deixar o perímetro da cidade, tive a oportunidade de contemplar a Catedral (nova) de Quelimane, que saúda todos aqueles que chegam e partem da cidade.

A etapa até Nicoadala não era longa.

Apenas 40Kms separavam-me do meu destino, por uma estrada já percorrida e sem grandes elevações.

Logo nos primeiros quilómetros pude sentir a presença do meu amigo “vento”. Vinha de Sul… o que não me causava qualquer tipo de problema, uma vez que até Nicoadala, eu seguiria no mesmo sentido. Depois de Nicoadala, a história seria outra, pois seria obrigado a rumar para Sudoeste.

Com o passar dos curtos quilómetros, as minhas pernas voltaram a acusar os presságios da “preguicite”. Apesar não haver razão para ter as pernas cansadas, a realidade era que estas recusavam-se a rolar com a eficiência devida. Quanto à eficácia, a questão era outra. A minha velocidade média estava muito próximo dos 20Kms/h, o que era mais que suficiente para atingir o meu objectivo em tempo útil.

Diante os meus olhos vários grumos de tonalidade acinzentada povoavam o céu azul.

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Sob os grumos de cor mais escura, era possível ver o chuvasco que encharcava os campos e regava o capim, deixando no ar um ligeiro odor a terra molhada.

Poucos minutos depois, o Sol encarregava-se de devolver o “excedente” à atmosfera através de nuvens de vapor, para que mais tarde voltasse a ser descarregado “lááááááááá…” mais além.

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Na minha cabeça, ainda me custava a crer que em plena época seca, houvesse tamanha ameaça de chuva, no entanto acabei por deixar estas filosofias meteorológicas para outras núpcias, uma vez que acabara-se de partir mais um raio na minha roda traseira.

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Pouco passava das 14h30 quando iniciei o processo de aproximação a Nicoadala.

 

Contava no final da etapa, com 1 raio a menos no perímetro da roda da bicicleta e com meia-dúzia deles desapertados.

Nicoadala, para os condutores de veículos, não era mais que um cruzamento entre as estradas provenientes da Beira, de Quelimane e de Mocuba. Em redor do cruzamento, vários pequenos estabelecimentos de comércio local satisfaziam as necessidades da população e de alguns viajantes. Do meu lado esquerdo estava a estrada antiga (com separador central) que levava ao centro da vila. No entanto parecia que o centro de Nicoadala deixara de ser no local original, para passar a ser na encruzilhada das 3 estradas principais.

Do meu lado direito, a única pensão de Nicoadala. Um local com mau aspecto exterior e com ainda pior aspecto interior.

Talvez por estar mal habituado (devido às mordomias de Quelimane), ou simplesmente porque a pensão era realmente má, preferi procurar abrigo em qualquer lugar onde pudesse montar a tenda.

Poucos metros à frente do cruzamento e já na estrada que seguia para a cidade da Beira, estava a única bomba de gasolina (ainda de método manual) e o único restaurante com aspecto de restaurante de todo o cruzamento.

Acabei por forrar o estômago nesse mesmo estabelecimento, onde também consegui uma valiosa sugestão acerca do local onde pernoitar.

Seria na casa do dono da “lanchonete” que estava do outro lado da rua e que tinha um quarto para lugar.

Eram as 16h00. Numa situação normal, eu teria tempo suficiente para conhecer melhor Nicoadala e suas gentes. Contudo a minha roda traseira apelava pela minha atenção, obrigando-me a despender o meu tempo livre a reparar os raios que agoiravam a minha viagem.

Desloquei-me ao centro de Nicoadala (leia-se cruzamento) para procurar a colaboração de um mestre local. A poucos metros do centro da vila, encontrei debaixo de uma cobertura de capim, a oficina de bicicletas que procurava.

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Expliquei ao meu anfitrião qual o problema com a minha roda.

Atempadamente, expliquei também qual a solução a adoptar, para que déssemos início aos trabalhos rapidamente e sem grandes invenções.

O processo de remover e voltar a aplicar todos os raios da roda, consumiu-nos mais do que uma hora de tempo. O pior viria a surgir quando chegámos à parte da finalização dos trabalhos, ou seja, alinhar e calibrar o aro.

Em primeiro lugar, fiquei com um aro elipsoidal em vez de um aro circular.

Em segundo lugar, e quando o primeiro problema já estava resolvido, acabei com o aro completamente descentrado, de tal maneira que quando coloquei os travões no lugar, o aro ficava pressionado num dos calços.

Para o mestre, estava tudo bem com o seu trabalho! O problema era com os travões e não com o aro que estava perfeitamente alinhado e calibrado.

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Apesar de ter os nervos à beira da erupção, controlei-me e expliquei-lhe calmamente que as bicicletas têm travões por alguma razão e que o aro deveria girar livremente no meio destes. O facto de remover os travões para libertar o aro, não resolveria um problema que consistia apenas em alinhar o aro pelo centro do eixo, em vez de o alinhar por uma linha qualquer do seu imaginário.

Já o Sol se tinha despedido de nós e a claridade escasseava, quando demos por concluída a intervenção na bicicleta.

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O jantar teve lugar na arrecadação da lachonete, adjacente ao meu quarto.

Havia sido convidado pelos seus funcionários para comer e para partilhar com eles, alguns dos episódios da minha viagem.

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O imbróglio com a roda da bicicleta deixara pouco tempo e pouca paciência para me dedicar ao estudo da etapa seguinte. Ainda não havia decidido se ia directo a Caia ou se visitaria a Vila de Sena. Fosse como fosse, era quase certo que teria que pernoitar algures no meio, antes de chegar a qualquer um destes destinos.

DSCF7492Ficava assim para a manhã seguinte, a reflexão e decisão sobre o destino da próxima etapa. Afinal de contas, o prazer e a liberdade de poder escolher o “dia de amanhã” era uma das grandes benesses da viagem, o qual dependeria apenas de mim…

…e da roda da bicicleta…

1 comentário:

  1. Olha o menino que andou a passear de bike pela minha terra :)
    Vou ter de ver aqui o blog com mais atenção que hoje foi so mesmo de passagem, mas estou curiosa para ler as aventuras e ver as fotos todas.. um beijo sr pedro!!

    :)
    Ass: Tixa
    Falamos no Toca Aqui ;)

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